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Mulheres no empreendedorismo: a revolução continua

A revista Conjuntura Econômica trouxe em agosto de 1998 uma revelação extraordinária para a época: as mulheres estão ocupando mais espaço no mercado de trabalho e até tirando o emprego dos homens! A matéria ainda destacou porcentagens altíssimas de cargos ocupados por mulheres, queda nos números de registros civis de casamentos e aumento no número de separações.

O artigo intitulado “A grande revolução feminina dos anos 90” ressaltou alguns pontos que hoje podemos ver como contraditórios, como o fato das mulheres ascenderem no mercado de trabalho ser uma ameaça ao emprego dos homens ou ainda, uma ameaça ao casamento e constituição natural da família, já que, segundo a revista, os homens estavam começando a aprender a trocar fraldas e apinhavam os consultórios de pediatras ao acompanharem seus filhos. Que absurdo!

Uma reportagem que é claramente um absurdo foi publicada há 24 anos e, infelizmente, com algumas correções de dados percentuais, poderia ser republicada hoje, em pleno 2022. O ano em que as mulheres ainda ganham 19% menos do que os homens e que 61% das empresas da bolsa paulista não tem nenhuma mulher em cargo de gerência.

O fenômeno “Teto de vidro” para as mulheres

Mencionado pela primeira vez nos anos 80 no Wall Street Journal, o termo “Teto de vidro” indica as “barreiras invisíveis” que dificultam a ascensão das mulheres no mercado de trabalho. Essas barreiras provêm de costumes e crenças sociais e culturais que determinam o lugar que a mulher deveria ocupar na sociedade, tais como:

  • Determinados trabalhos não são feitos para mulheres;
  • A mulher é frágil e emocional demais para ser chefe;
  • É melhor que homens trabalhem com homens e mulheres com mulheres;
  • A mulher cuida da casa e dos filhos, então, não vai ter tempo para se dedicar totalmente ao trabalho.

Com isso, as mulheres encontram muito mais dificuldades do que os homens ao buscar uma colocação no mercado de trabalho, enfrentam um período maior de desemprego entre uma oportunidade e outra, são frequentemente contratadas para cargos inferiores a sua formação e experiência e são mais expostas ao assédio moral e sexual. Quando a mulher tem filhos, então, as dificuldades aumentam ainda mais! Mães chegam a receber um salário até 40% menor do que as mulheres sem filhos.

Os maiores desafios das mulheres no empreendedorismo

Na tentativa de burlar essas dificuldades, nos últimos anos, houve um aumento significativo de mulheres que criaram o seu próprio negócio e entraram no mundo empreendedor. Porém, o cenário não é tão diferente e os desafios são constantes:

  • Em 2020, um estudo conjunto entre a Distrito, a B2mamy e a Endeavor, mostrou que startups fundadas por mulheres representavam apenas 4,7% do ecossistema empresarial nacional;
  • No mesmo ano, dados da plataforma Crunchbase atestaram que as mulheres receberam somente 2,3% dos investimentos de capital de risco;
  • Mulheres são apenas 14% dos investidores anjo, o que influencia diretamente na escolha de quem vai receber o investimento.

Para as mulheres, começar o próprio negócio pode ser muito mais desafiador do que para os homens. Além de todos os fatores que caracterizam o fenômeno Teto de vidro e que, por conseguinte, dificultam muito a ascensão profissional da mulher, elas são as que mais sofrem de depressão, ansiedade e estresse devido à jornada múltipla que ainda é imposta às mulheres.

Há ainda o sexismo, que é a discriminação baseada em estereótipos de gênero, que diz que mulheres não são tão assertivas e determinadas quanto os homens e não conseguem ser firmes em negociações e lideranças. Junte a tudo isso a falta de incentivo, ambientes pouco representativos e a descrença dos investidores e você terá uma batalha diariamente travada, onde as mulheres são obrigadas a provar o tempo todo que são tão capazes e tão empreendedoras quanto os homens.

Os ares da mudança no empreendedorismo feminino

Apesar de todas as dificuldades que as mulheres ainda enfrentam na hora de empreender, nem tudo está perdido. Várias ações estão em andamento em todo país, visando incentivar o empreendedorismo feminino e os reflexos já foram visíveis durante a pandemia, onde pesquisas comprovaram um aumento significativo no número de empresas criadas por mulheres. Hoje, elas representam 48,7% dos empreendedores no país.

Características antes descredibilizadas, como sensibilidade e intuição, se mostraram determinantes para o sucesso de empreendedoras que provaram que as mulheres têm sim habilidades cruciais na hora de liderar uma equipe e gerenciar um negócio. As mulheres também se mostraram melhores na hora de planejar, gerenciar o tempo e ter atenção aos detalhes, além de investirem mais em capacitação e treinamentos.

Na hora de se reinventar e se adaptar às mudanças, as mulheres também saem na frente. Segundo uma pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com a FGV em 2020, os negócios criados por mulheres se adaptaram mais rapidamente às adversidades da pandemia do que aqueles criados pelos homens. 

Elas também mostraram ter mais agilidade na hora de adotar estratégias de inovação: 71% das empreendedoras ainda usam redes sociais e outras ferramentas online para divulgar e vender seus produtos e serviços mesmo com a flexibilização das medidas de isolamento social, contra 63% dos empreendedores homens.

Ao comemorarmos o Dia Internacional da Mulher, não podemos esquecer que ainda há muito a ser conquistado e que a meta será sempre a equidade, nada a menos. A luta é constante por uma educação mais igualitária, melhor divisão nos trabalhos domésticos e pelo fim do preconceito sexista. Que o vidro seja definitivamente quebrado.

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